1. Introdução
A educação sempre foi vista como um dos principais fatores de desenvolvimento econômico e social de uma nação. A educação operou como um dos principais alavancadores do desenvolvimento do Japão na década de 1970, da Coreia do Sul na década de 1980 e da China a partir da década de 1990, da mesma forma que contribuiu para os avanços econômicos e sociais dos países escandinavos (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Islândia) após a Segunda Guerra Mundial. A educação sempre foi vista, também, como a garantia da obtenção de um emprego bem remunerado, de ascensão social para as camadas mais baixas da população e de redução das desigualdades sociais. Melhores salários sempre estiveram relacionados com a perícia do trabalhador que seria obtida com a educação qualificada.
A educação convencional oferecida atualmente aos trabalhadores e estudantes que se preparam para entrar no mercado de trabalho é ineficaz. Em outras palavras, o sistema de educação do Brasil está preparando trabalhadores para um mundo do trabalho que vai deixar de existir. Tudo leva a crer que os robôs deverão ser utilizados largamente na atividade produtiva em geral, isto é, na agricultura, na indústria, no comércio e nos serviços que faz com que seja um imperativo preparar os seres humanos para lidar com estas máquinas inteligentes no mercado de trabalho.
Em 2013, pesquisadores da Oxford University publicaram um estudo detalhado do impacto da computação sobre o emprego nos Estados Unidos considerando os avanços recentes em aprendizado de máquinas (machine learning) e robôs móveis. Eles analisaram cada uma das categorias profissionais catalogadas pelo U.S. Bureau of Labor Statistics baseada em um banco de dados sobre competências requeridas para exercer esses empregos. Os pesquisadores concluíram que 47% dos atuais empregos estão sob alto risco de automação nos próximos anos e décadas e outros 19% sob o risco médio. Eles consideram que somente um terço dos atuais trabalhadores está salvo de substituição nas próximas uma ou duas décadas por robôs inteligentes. A conclusão que se extrai disso tudo é a de que a educação a ser propiciada aos trabalhadores em geral deve contribuir no sentido deles se capacitarem a lidar com máquinas inteligentes.
Vivemos em uma era definida pela mudança fundamental entre trabalhadores e máquinas e que esta mudança está fazendo com que as máquinas contribuam para aumentar a produtividade dos trabalhadores, além de estar se transformando, também, em trabalhadores ao substituir os seres humanos. Segundo Martin Ford, toda esta mudança resulta da implacável aceleração da tecnologia do computador. A Lei de Moore de que a capacidade dos computadores dobra a cada 18 ou 24 messes tem se mantido até o presente momento. A Lei de Moore surgiu em 1965 através de um conceito estabelecido por Gordon Earl Moore. Tal lei dizia que o poder de processamento dos computadores dobraria a cada 18 ou 24 meses. Não há como dizer que esta lei vá se perpetuar por muito mais tempo, mas até agora ela tem sido válida (FORD, Martin. Rise of the robots. New York: Basic Books, 2015).
O sistema de educação tem por objetivo preparar as pessoas, não apenas para o mercado de trabalho, mas também para a vida. É preciso que a educação contemporânea proporcione as condições para que os estudantes adquiram os conhecimentos necessários para poder pensar e construir um mundo melhor. É preciso fazer com que os estudantes saibam sobre o que acontece nos campos da economia, da ciência e da tecnologia, do meio ambiente e das relações internacionais, entre outras. Há enorme desinformação que atinge a esmagadora maioria dos estudantes do Brasil fazendo com que eles não tenham condições de interpretar corretamente a realidade em que vive e, muito menos, em transformá-la. O sistema de educação atual contribui enormemente para a alienação dos seres humanos porque a educação não é pensada como cultivo do espírito, como condição para o avanço da humanidade. Este é que deveria ser o verdadeiro sentido da educação.
Para o sistema de educação preparar as pessoas para a vida, deveriam ser adotadas as diretrizes propostas por Edgar Morin em sua obra Os Sete Saberes Necessários à Educação no Futuro que indica a necessidade de haver um esforço transdisciplinar que seja capaz de rejuntar ciências e humanidades e romper com a oposição entre natureza e cultura que, segundo ele, trata-se de um desafio para todos aqueles que estão empenhados em repensar os rumos das instituições educacionais e não quiserem sucumbir na inércia da fragmentação e da excessiva separação em disciplinas características da era contemporânea. Morin defende a tese de que precisamos reaprender a rejuntar a parte e o todo, o texto e o contexto, o global e o planetário, e enfrentar os paradoxos que o desenvolvimento técnico e econômico trouxe consigo (MORIN. Edgar. Os sete saberes necessários a educação do futuro. São Paulo: Editora Cortez, 2011). Considerando que muito em breve o mundo será bastante diferente do que é hoje, é preciso realizar uma revolução no sistema de educação para atender as necessidades não apenas do presente, mas, sobretudo do futuro.
A educação brasileira atravessa uma crise sem precedentes. Esta crise resulta, de um lado, da inexistência de um eficiente e eficaz sistema de educação e, de outro, da falta de políticas governamentais que contribuam para a superação dos problemas atuais da educação e para sua adequação às mudanças tecnológicas em curso que impactam sobre o mundo do trabalho e a sociedade em geral. O fato de o sistema de educação do Brasil ser ineficiente e ineficaz impede que ela opere como fator de desenvolvimento econômico e social e contribua para a ascensão social das camadas mais baixas da população. A inexistência de uma nova política de educação ajustada às mudanças tecnológicas em curso impede que o Brasil aumente a produtividade de seus trabalhadores e comprometa seu futuro desenvolvimento econômico e social. Estas são as razões pelas quais é um imperativo implantar um novo sistema de educação no Brasil.
2. Avaliação do sistema de educação atual do Brasil
A ineficiência e a ineficácia do sistema de educação atual são demonstradas pelo desempenho medíocre de estudantes brasileiros nos exames do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) que busca medir o conhecimento e a habilidade em leitura, matemática e ciências de estudantes com 15 anos de idade tanto de países industrializados membros da OCDE como de países parceiros e pelo insatisfatório desempenho das universidades brasileiras no ranking das universidades no mundo medido pelo THE (Times Higher Education) que avalia o desempenho dos estudantes universitários e a produção acadêmica nas áreas de engenharia e tecnologia, artes e humanidades, ciências da vida, saúde, física e ciências sociais e considera ainda pesquisa, transferência de conhecimento e perspectiva internacional, além do ambiente de ensino.
O Pisa de 2015 avaliou jovens de 15 e 16 anos em 70 países e territórios em matemática, leitura e ciências. A média geral deixa o Brasil nas últimas posições: fica na 63ª posição em matemática, 58ª em leitura e 65ª em ciências. As universidades brasileiras também estão mal avaliadas no ranking universitário internacional do THE, o principal da atualidade. A principal Universidade do Brasil, USP se situa entre 251º a 300º lugar e, a segunda maior Universidade brasileira, a Unicamp, se situa entre 401º a 500º lugar em 2018. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) apresentou o índice de desenvolvimento da Educação de 128 países. O Brasil aparece na incômoda 88ª posição, perto de Honduras (87ª), Equador (81ª) e Bolívia (79ª) e longe dos nossos vizinhos Argentina (38ª), Uruguai (39ª) e Chile (51ª).
O Brasil está nas últimas posições quando o assunto é o valor investido anualmente por aluno. Em 2012, foram investidos US$ 3.441 por estudante da rede pública brasileira, do ensino básico ao superior, montante que corresponde a 37% da média dos 34 países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que é de US$ 9.317. No topo da lista está Luxemburgo (US$ 21.998) e Suíça (US$ 15.859). Atrás do Brasil, apenas México (US$ 3.233), Turquia (US$ 3.072), Colômbia (US$ 2.898) e Indonésia (US$ 1.809). De acordo com pesquisa internacional, valor gasto por aluno no Brasil é o 2º mais baixo entre todos os países mapeados.
O fato de o governo brasileiro alocar mais dinheiro público nas universidades do que no ensino fundamental e médio é uma distorção que tende a reforçar as fragilidades da educação básica. Ainda na repartição dos recursos, as verbas destinadas ao ensino médio superam as do ensino fundamental e os efeitos disso aparecem nos números do IBGE. Enquanto que a população na escola com 10 anos ou mais é de 94,6%, ou quase universal, a quantidade de pessoas fora da escola entre 4 e 7 anos é grande (- 31%), ou 4,1 milhões de pessoas.
O ensino superior brasileiro recebe 3,4 vezes mais recursos do que os anos iniciais do ensino fundamental no Brasil. Na média da OCDE, esse investimento é 1,8 vezes maior. O Governo Federal é um ente federado que participa pouco do investimento na educação no Brasil. Segundo o INEP, em 2012, a cada R$ 1 investido em educação, os municípios colocaram R$ 0,42, os Estados despenderam R$ 0,40 e a União investiu apenas R$ 0,18. O governo federal investe pouco em educação porque 45% do orçamento da União está comprometido com o pagamento dos juros e amortização da dívida pública.
As fragilidades do ensino superior no Brasil acontecem, entre outros fatores, devido às fraquezas existentes no ensino fundamental e médio que não prepara os estudantes com capacitação suficiente para frequentarem os cursos universitários. Esta é a principal razão pela qual ocorre grande evasão de alunos em vários cursos oferecidos pela Universidade brasileira. No ensino da engenharia no Brasil, por exemplo, dos 150 mil alunos admitidos nos exames de admissão ao curso, apenas 32 mil são diplomados. Além de lidar com alunos despreparados oriundos do ensino médio, a Universidade pública lida com a carência de recursos que limita sua atuação e, sobretudo, devido à falta de um consistente plano nacional de educação.
Fazendo analogia do ensino superior com a construção de um edifício e da educação básica com o alicerce ou fundação do edifício, pode-se afirmar que o edifício só terá condições de alcançar maiores alturas se possuir um robusto alicerce que lhe dê sustentação, enquanto o ensino superior só terá grande desenvolvimento se a educação básica for bem estruturada e lhe dê sustentação. Para erguer um edifício, é preciso primeiro fazer o alicerce. Para o aluno ter sucesso no ensino superior, é preciso que tenha uma educação básica de qualidade.
A catastrófica situação em que se encontra o sistema de educação no Brasil demonstrada pelos dados do PISA, do THE, da UNESCO e OCDE e as mudanças tecnológicas em curso que impactam sobre o mundo do trabalho e a sociedade em geral estão a exigir que se realize uma verdadeira revolução na educação no Brasil. O grande desafio de educação no Brasil é representado, não apenas pela deficiência do sistema atual, mas, sobretudo, pelas rápidas mudanças que estão ocorrendo no mundo do trabalho graças ao avanço tecnológico, devido, sobretudo, ao impacto da inteligência artificial que é a inteligência similar à humana exibida por mecanismos ou software. Especialistas acreditam que a inteligência das máquinas se equiparará à de humanos até 2050, graças a uma nova era na sua capacidade de aprendizado. Isso significa dizer que estamos criando máquinas que podem ensinar a si mesmas e também a se comunicar simulando a fala humana.
3. Bases do novo sistema de educação a ser implantado no Brasil
Considerando que um dos objetivos de um sistema de educação de um país é o de planejar a preparação e a reciclagem das pessoas para o mercado de trabalho, compete aos planejadores do sistema de educação do Brasil identificar o papel dos seres humanos no mundo do trabalho em um futuro com máquinas inteligentes para realizar uma ampla revolução no ensino em todos os níveis contemplando a qualificação dos professores e a estruturação das unidades de ensino para prepararem seus alunos para um mundo do trabalho em que as pessoas terão que lidar com máquinas inteligentes. Os programas de ensino das unidades educacionais em todos os níveis devem ser profundamente reestruturados para atingirem esses objetivos.
Para implantar um novo sistema de educação voltado para a preparação dos seres humanos para o futuro mercado de trabalho, se torna imprescindível que se comece a identificar as competências humanas necessárias para o trabalho do século XXI e reestruturar o sistema educacional do Brasil que está obsoleto para formar cidadãos mais capacitados para uma realidade diferente da era industrial que está chegando ao fim e ainda prevalece no momento.
Como ocorre nos melhores sistemas de educação do mundo, o governo brasileiro deveria priorizar a educação básica e, só quando esta se tornar universal, deveria destinar recursos para o ensino superior. É preciso ressaltar que o pilar que sustenta a educação diz respeito à seleção e formação de professores altamente qualificados, com reconhecimento profissional e boas condições de trabalho como ocorre nos melhores sistemas de educação do mundo. Na Finlândia, por exemplo, onde se pratica a melhor educação no mundo, a carreira do magistério atrai a elite dos estudantes. Os melhores alunos viram professores na Finlândia. Enquanto isto, no Brasil, ocorre o “apagão de professores” sendo cada vez menor a quantidade de estudantes que procuram cursos de licenciatura. Consequentemente, o Brasil tem formado cada vez menos docentes. Alcançar a qualidade na educação não é uma tarefa fácil. Requer tempo e ações integradas, da formação de professores à infraestrutura, da questão salarial à gestão escolar.
Murilo Gun, palestrante graduado na Singularity University e professor de criatividade, elencou quatro habilidades que serão essenciais em um futuro de crescimento exponencial com tecnologias disruptivas, como a Inteligência Artificial: 1) Inteligência interpessoal- a habilidade de se relacionar com outras pessoas, destacando-se a capacidade de criar empatia, que está relacionada com a capacidade de liderança; 2) Inteligência intrapessoal- a capacidade de se relacionar consigo mesmo, destacando-se o autoconhecimento, autocontrole e domínio de emoções; 3) Inteligência Inter artificial- habilidade de compreender o impacto da tecnologia, como a Inteligência Artificial e a robótica, e utilizar esses recursos como ferramentas para ampliar o potencial humano; e, 4) Inteligência criativa– principal diferencial entre a inteligência humana e a artificial, ou seja, desenvolvendo a capacidade de criar algo novo, utilizando as demais inteligências e aplicando-as de forma inovadora (SAP. As habilidades do futuro em um mundo com Inteligência Artificial. Disponível no website <http://news.sap.com/brazil/2017/01/25/as-habilidades-do-futuro-em-um-mundo-com-inteligencia-artificial/>, 2017).
Países como a Suíça e a Finlândia já começaram a considerar ativamente esta nova realidade e iniciaram um processo de adequação de suas sociedades – que começou pela reformulação de seus sistemas educacionais, privilegiando o desenvolvimento da habilidade de metacognição (capacidade do ser humano de monitorar e autorregular os processos cognitivos, ou seja, a capacidade do ser humano de ter consciência de seus atos e pensamentos), domínio de idiomas (em especial da língua inglesa, pelo fato da maior parte do conhecimento humano estar registrado neste idioma) e um currículo baseado em STEM (acrônimo em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) associado ao “método” grego de “arte liberal” por se entender que é uma maneira eficiente de adequar a forma de pensar para uma mentalidade mais direcionada à criação de propriedade intelectual, em que se destaca a conexão de conhecimentos – de forma mais abrangente – e a imaginação – para atuar criativamente na sociedade e gerar inovação (TIBAU, Marcelo. Inteligência Artificial e o mercado de trabalho. Disponível no website<http://www.updateordie.com/2016/10/08/inteligencia-artificial-e-o-mercado-de-trabalho/>, 2016).
Artigo publicado no Blog da CONQUER – a nova escola sob o título 6 tendências para o futuro da educação, disponível no website <http://escolaconquer.com.br/6-tendencias-para-o-futuro-da-educacao/>, informa que o sistema de ensino deve acompanhar as mudanças no mundo. As 6 tendências do sistema de educação do futuro são as seguintes:
1. Salas de aula– Ao invés de serem destinadas à teoria, as salas terão como objetivo a prática. O aluno aprende a teoria em casa e pratica nas salas de aula com auxílio de um professor/mentor.
2. Aprendizado personalizado– Estudantes irão aprender com ferramentas que se adaptam a suas próprias capacidades, podendo aprender em tempo e locais diferentes. Isso significa que alunos acima da média serão desafiados com exercícios mais difíceis e os com mais dificuldade terão a oportunidade de praticar mais até que atinjam o nível desejado. Esse processo fará com que os professores sejam mais capazes de ver claramente qual tipo de ajuda cada estudante precisa.
3. Livre escolha– Estudantes terão a liberdade de modificar seu processo de aprendizagem, escolhendo as matérias que desejam aprender com base em suas próprias preferências e poderão utilizar diferentes dispositivos, programas e técnicas que julgarem necessários para o próprio aprendizado.
4. Aplicabilidade prática– O conhecimento não ficará apenas na teoria, ele será posto em prática através de projetos para que os alunos adquiram o domínio da técnica e também pratiquem organização, trabalho em equipe e liderança.
5. QE > QI (quociente emocional > quociente de inteligência)– Uma vez que a tecnologia traz mais eficiência e vem cada vez mais substituindo o trabalho humano em diversas áreas, a formação deverá contemplar a presença de habilidades essencialmente humanas e valorizar ainda mais as interações sociais. As escolas deverão prover mais oportunidades para os alunos adquirirem habilidades do mundo real, que farão a diferença em seus trabalhos. Isso significa mais espaço para programas de trabalho, mais projetos colaborativos, mais prática.
6. O sistema de avaliações irá mudar– Muitos argumentam que a forma como o sistema de perguntas e respostas das provas não é eficaz, pois muitos alunos apenas decoram os conteúdos e os esquecem no dia seguinte após a avaliação. Ainda, esse sistema não avalia adequadamente o que realmente o aluno é capaz de fazer com aquele conteúdo na prática. Por isso, a tendência é que as avaliações passem a ocorrer na realização de projetos reais, com os alunos colocando a mão na massa.
No texto Educação do Futuro, disponível no website <https://www.goconqr.com/pt-BR/examtime/blog/educacao-futuro/>, foi apresentada entrevista de José Moran,
Pesquisador e orientador de Projetos Educacionais Inovadores com metodologias ativas em cursos presenciais e online e autor do livro “A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá ”. Os principais aspectos por ele considerados são os seguintes:
1. Não deve ser adotado um único modelo, proposta, caminho para a educação. Trabalhar com desafios, com projetos reais, com jogos parece o caminho mais importante hoje, mas pode ser realizado de várias formas e em contextos diferentes. Podemos ensinar por problemas e projetos num modelo com disciplinas isoladas e em modelos com enfoque transdisciplinar; com modelos mais abertos – de construção mais participativa e processual – e com modelos mais roteirizados, preparados anteriormente, planejados nos seus mínimos detalhes.
2. Alguns componentes são fundamentais para o sucesso da aprendizagem: a criação de desafios, atividades, jogos que realmente trazem as competências necessárias para cada etapa, que solicitam informações pertinentes, que oferecem recompensas estimulantes, que combinam percursos pessoais com participação significativa em grupos, que se inserem em plataformas adaptativas, que reconhecem cada aluno e ao mesmo tempo aprendem com a interação, tudo isso utilizando as tecnologias adequadas. O articulador das etapas individuais e grupais é o docente, com sua capacidade de acompanhar, mediar, de analisar os processos, resultados, lacunas e necessidades, com as ações realizadas pelos alunos individual e grupalmente. Esse novo papel do professor é mais complexo do que o anterior de transmitir informações. Precisa de uma preparação em competências mais amplas, além do conhecimento do conteúdo, como saber adaptar-se ao grupo e a cada aluno; planejar, acompanhar e avaliar atividades significativas e diferentes.
3. Ensinar e aprender podem ser feitos de forma muito mais flexível, ativa e focada no ritmo de cada aluno. O modelo mais interessante e promissor de utilização de tecnologias é o de concentrar no ambiente virtual o que é informação básica e na sala de aula as atividades mais criativas e supervisionadas. A combinação de aprendizagem por desafios, problemas reais, jogos é muito importante para que os alunos aprendam fazendo, aprendam juntos e aprendam também no seu próprio ritmo. E é decisivo também para valorizar mais o papel do professor como gestor de processos ricos de aprendizagens significativas e não o de um simples repassador de informações. Se mudarmos a mentalidade dos docentes para serem mediadores, poderão utilizar os recursos próximos, tecnologias simples, como os que estão no celular, uma câmera para ilustrar, um programa gratuito para juntar as imagens e contar com elas histórias interessantes e os alunos serem autores, protagonistas do seu processo de aprender.
4. Os desafios de mudanças na educação são estruturais. É preciso aumentar o número de escolas de qualidade, de escolas com bons gestores, docentes e infraestrutura, que consigam motivar os alunos e que realmente promovam uma aprendizagem significativa, complexa e abrangente. Precisa haver plano de carreira, formação e valorização de gestores educacionais e professores. É preciso políticas consistentes de formação, para atrair os melhores professores, remunerá-los bem e qualificá-los melhor, de políticas inovadoras de gestão que levem os modelos de sucesso de gestão para a educação básica e superior.
5. Os educadores precisam aprender a realizar-se como pessoas e como profissionais, em contextos precários e difíceis, aprender a evoluir sempre em todos os campos, a ser mais afetivos e ao mesmo tempo saber gerenciar grupos. Devem se transformar em educadores inspiradores e motivadores.
Para realizar uma revolução no sistema de educação do Brasil, é preciso preparar o professor para cumprir um novo papel. O papel do professor é decisivo para que, através da educação, seja criado um novo tipo de homem qualificado para o mundo do trabalho e consciente e bem preparado para transformar o mundo em que vivemos em seu benefício. Deveríamos nos inspirar nas políticas educacionais praticadas no Japão, Finlândia, Coreia do Sul e Suíça que são os países mais avançados em educação no mundo no sentido de reestruturar o sistema de educação do Brasil do ensino infantil ao ensino superior.
*Fernando Alcoforado, 79, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil(Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo(Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017) e Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Bahiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria).