As condições exigidas para a retomada da economia com a pandemia do novo coronavírus

Fernando Alcoforado*

Este artigo tem por objetivo abordar três questões muito importantes relacionadas com a pandemia do novo Coronavirus: a primeira, diz respeito às condições exigidas para a retomada ou reabertura da atividade econômica; a segunda, concerne às chances de se obter uma vacina eficaz para imunizar a população do vírus e, a terceira, está relacionada com a possibilidade ou não da pandemia se tornar endêmica. Estas duas últimas questões são importantes porque condicionam a retomada da economia. Neste artigo, busca-se, portanto, responder às questões seguintes: 1) Em quais condições deveriam ser retomadas as atividades econômicas?; 2) É possível reabrir a economia sem a existência de uma vacina? Será possível obter uma vacina eficaz para imunizar toda a população mundial?; 3) O novo Coronavirus será endêmico? Para buscar respostas para estas questões, foram analisadas algumas publicações recentes cujos detalhes estão apresentados nos parágrafos a seguir.

Governos do mundo todo estão em dificuldade com a questão de como reabrir suas economias enquanto ainda existe o vírus, que infectou quase 4,3 milhões de pessoas em todo o mundo e deixou mais de 291 mil mortos. O conflito que se estabelece no Brasil entre a prioridade a ser dada à retomada da economia defendida pelo governo Bolsonaro e a prioridade a ser dada ao combate ao novo Coronavirus defendida pelos cientistas e pela maioria dos governadores de estado se processa, também, nos Estados Unidos com o presidente Trump defendendo a retomada da economia sem que a pandemia tenha sido superada em oposição à visão dos cientistas que a considera prematura. O jornal El País publicou reportagem sob o título Epidemiologista da Casa Branca se distancia de Trump e alerta Senado contra reabertura prematura nos Estados Unidos, disponível no website <https://brasil.elpais.com/…/epidemiologista-da-casa-branca-…>.

O epidemiologista-chefe dos Estados Unidos, Anthony Fauci, disse em seu depoimento à Comissão de Saúde do Senado que uma retomada prematura da economia causará sofrimento e morte desnecessários no país. Uma retomada prematura da economia poderá ter “consequências muito sérias” e que o número de mortos no país será “quase certamente” maior que os mais de 88 mil já registrados até o momento. A pandemia, enfatizou o cientista, não está totalmente sob controle. Se algumas áreas, cidades, estados pularem etapas e reabrirem prematuramente sem ter a capacidade de responder com eficácia e eficiência a doença, sua preocupação é que começaremos a ver pequenos picos que podem se transformar em surtos, disse Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas desde 1984, aos senadores. Na realidade, segundo ele, paradoxalmente, isso levará a um atraso que causará não só sofrimento e mortes que poderiam ser evitados, mas também poderá significar um atraso na recuperação econômica.

A fala de Fauci ocorreu em uma audiência para avaliar a resposta do governo norte-americano à Covid-19 que expôs ainda mais as desavenças entre as diretrizes científicas para uma retomada gradual, cautelosa e controlada da economia, e a retomada rápida defendida pelo presidente Donald Trump, que disse que o país havia vencido a Covid-19 e que era hora de voltar à normalidade. Contradizendo Trump, o diretor do Centro de Prevenção e Controle de Doenças, Robert Redfield, disse em seu depoimento ao Senado que os Estados Unidos ainda não estão fora de perigo. Dos 50 estados americanos, 35 já iniciaram ou anunciaram o alívio das restrições. A maior parte deles, no entanto, vêm fazendo sem respeitar as diretrizes não vinculantes das autoridades médicas federais. Na realidade, a maioria dos governadores que anunciaram a retomada parcial das atividades lidava com um aumento dos casos de contaminados pela doença. Questionado sobre a possibilidade de haver uma vacina pronta até o outono, Fauci disse que esta é uma possibilidade muito distante. A maior parte da comunidade médica concorda que a produção de uma ou mais vacinas contra o novo Coronavírus é essencial para o retorno completo à normalidade. Em outras palavras, a retomada da economia norte-americana só deveria acontecer quando a vacina estiver disponível.

Sobre a disponibilidade de vacina contra o novo Coronavirus, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) informa que ela só será possível em cerca de um ano. Esta informação consta do website <https://g1.globo.com/…/vacina-sera-possivel-em-cerca-de-um-…>. A Agência Europeia de Medicamentos descarta a possibilidade de pular a terceira fase de um teste de vacina, que ele disse que seria necessário para garantir que uma vacina fosse segura e eficaz. Uma vacina contra o novo Coronavírus deve ser aprovada em cerca de um ano em um cenário otimista, informa a agência que aprova medicamentos para a União Europeia. A Agência Europeia de Medicamentos, em comunicado a 33 desenvolvedores, disse que está fazendo o possível para acelerar o processo de aprovação. Ela não garante que qualquer vacina poderia estar pronta em setembro. Para vacinas, ela poderá estar disponível em 2021. A EMA também está analisando 115 diferentes tratamentos para o novo Coronavírus, que matou quase 300 mil pessoas em todo o mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde. Ela informa que algumas dessas terapias poderiam ser aprovadas na Europa ainda neste verão, mas não especificou quais.

Pelo exposto, a retomada da economia dos Estados Unidos só deveria acontecer a partir de 2021 se a vacina estiver disponível. O especialista em emergências da OMS, Mike Ryan informa que mais de 100 possíveis vacinas estão sendo desenvolvidas, incluindo várias em ensaios clínicos, mas especialistas têm destacado as dificuldades de encontrar vacinas eficazes contra o novo Coronavírus. Esta informação foi apresentada no artigo OMS diz que novo Coronavírus pode se tornar endêmico publicado em 14/05/2020 por Emma Farge e Michael Shields, repórteres da Reuters, disponível no website <https://agenciabrasil.ebc.com.br/…/oms-diz-que-coronavirus-…>. Neste artigo, consta a informação de que o novo Coronavírus, que causa a doença respiratória covid-19, pode se tornar endêmico como o vírus da imunodeficiência humana (HIV), disse a Organização Mundial da Saúde (OMS) que alertou sobre a dificuldade de prever em quanto tempo o vírus continuará circulando e pediu um “esforço enorme” para combatê-lo.

Segundo a OMS, esse vírus pode se tornar endêmico em nossas comunidades e nunca desaparecer, informa o especialista em emergências da OMS, Mike Ryan. Ele disse que acha importante sermos realistas e que não acredita que alguém possa prever quando essa doença desaparecerá. Essa doença pode se estabelecer como um problema a longo prazo ou não. Ryan lembrou que isso exige enorme esforço, mesmo que uma vacina seja descoberta. Mais de 100 possíveis vacinas estão sendo desenvolvidas, incluindo várias em ensaios clínicos, mas especialistas têm destacado as dificuldades de encontrar vacinas eficazes contra o novo Coronavírus. Ryan observou que existem vacinas para outras doenças, como sarampo, que não foram eliminadas. Ryan disse ser necessário um controle muito significativo do vírus para diminuir seu risco, que, segundo ele, permanece alto nos níveis nacional, regional e global.

Pode-se concluir pelo exposto que, trata-se de gigantesco risco retomar a atividade econômica, exceto as essenciais, em qualquer país sem a existência de uma vacina porque causará sofrimento e morte desnecessários, nada assegura que as vacinas que venham a ser desenvolvidas sejam eficazes no combate ao novo Coronavirus e de que não há garantia de que o novo Coronavirus não se torne uma doença endêmica como o sarampo e aids. É preciso estabelecer a compreensão de que levará algum tempo para sair dessa pandemia. Os países têm que retomar as atividades econômicas, portanto, com a necessária cautela para evitar novos surtos e o crescimento vertiginoso de mortes pelo novo Coronavirus. A saúde da população deve ser considerada prioritária e não a retomada da atividade econômica. Portanto, há o risco de elevar o número de mortes com a retomada prematura da economia como desejam os presidentes Trump nos Estados Unidos e Bolsonaro no Brasil.

Com a propagação do novo Coronavirus, os governos têm que atuar com o objetivo de minimizar o número de infectados e de mortos pelo vírus e evitar o colapso do sistema de saúde adotando o isolamento social total da população, manter as atividades econômicas essenciais e adotar medidas em benefício dos desempregados e das populações pobres para não morrerem de fome e das micro, pequena e média empresas para não sucumbirem à crise. Estas são medidas indispensáveis a serem adotadas durante o avanço do Coronavirus. Superado o Coronavirus com o surgimento de uma vacina, viria a etapa de reconstrução do sistema econômico com a adoção das medidas seguintes:

• Construção de uma grande quantidade de obras públicas, com destaque para a infraestrutura econômica (energia, transporte e comunicações) e social (educação, saúde, habitação e saneamento básico);
• Concessão pelo governo de facilidades fiscais e de juros baixos para as empresas voltarem a investir;
• Desenvolvimento da economia social e solidária para combater o desemprego gerando trabalho e renda, em diversos setores, seja nos bancos comunitários, nas cooperativas de crédito, nas cooperativas da agricultura familiar, na questão do comércio justo, nos clubes de troca, etc;
• Concessão pelo governo da renda básica ou universal para a população, sobretudo a mais vulnerável.

* Fernando Alcoforado, 80, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).

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