Portal Saúde no Ar

 

Veneno em ambientes aquáticos

O tema de hoje trata sobre os impactos dos agrotóxicos nos ambientes aquáticas e na água de comsumo. Atualmente, a grande maioria dos agrotóxicos utilizados são moléculas orgânicas obtidas por rotas sintéticas a partir de moléculas inorgânicas produzidas em laboratórios. Até 2010 estavam registrados na ANVISA 880 produtos a partir de 508 ingredientes ativos, pertencentes a 241 grupos químicos distintos. Desses, os mais numerosos são: organofosforados (70), carbamatos (43), piretróides (42), inorgânicos (22), sulfonillireicos (19), triazóis (17) ácidos arilóxifenopropiônicos (15) e precursores de isocianato de metila (13). Estes produtos de maneira geral após a sua aplicação na agropecuária geram resíduos lançados no ambiente porque não conseguem alcançar seu alvo, insetos e plantas.

Todavia, felizmente esses resíduos não persistem indefinidamente no ambiente, eles sofrem degradação em diversos compartimentos ambientais: água, solo, ar e fotólise pelo sol. O primeiro processo de degradação é feito pela ação enzimática de microrganismos do solo e da água que os transformam em substâncias menos impactantes como o CO2, H20, N2, P, C e outros. Essa biodegradação não é completa e se dá principalmente nas proximidades do sistema radicular dos vegetais, onde se acumulam maior número desses organismos. A degradação dos agrotóxicos também ocorre por processos químicos como: fotólise (luz solar), hidrólise (degradação pela água), oxidação e redução nos espaços vazios dos solos e pela adsorção e desorção nas partículas eletricamente carregadas de argilas e matéria orgânica dos solos e sedimentos em geral.

Por outro lado, o tempo de meia vida na água indica a estabilidade e persistência das moléculas nos ecossistemas aquáticos indicando em que medida serão maiores ou menores as chances de serem degradadas nesse meio. Quanto maior o tempo de meia vida na água, maior poder contaminante terá a molécula do agrotóxico em questão. De maneira geral, para os agrotóxicos mais utilizados na agropecuária brasileira a faixa do tempo de degradação de pelo menos metade da quantidade inicial do ingrediente ativo na água é bastante ampla, indo de 1,5 dias até 350 dias para sua degradação, portanto estáveis no ambiente aquático.

A Agência de Proteção Ambiental (EPA) estabelece que um agrotóxico seja estável na água quando o seu tempo de meia vida é > 25 semanas. Enxerga-se, a priori, como mais importante o impacto ecotoxicológico da derivação principalmente do herbicida Glifosato no ecossistema aquático. Embora estudos relatem a rápida hidrólise do glifosato em meio aquoso e apresentarem-se como atóxico para peixes, o impacto indireto desse produto pode ser medido pela ação herbicida desse produto sobre a vegetação do fitoplâncton (comunidade de pequenos vegetais – algas, que vivem em suspensão e que usados como alimentos pelos peixes) causando assim menor oferta de alimentos e consequentemente o empobrecimento do ecossistema aquático seja pela mortandade como pela diminuição da diversidade de espécies da população de peixes. Também há relatos de sua toxicidade para animais invertebrados de ecossistemas aquáticos.

Essa degradação e persistência no ambiente não são lineares e iguais para todos os ingredientes ativos de agrotóxicos nas diferentes condições edafoclimáticas brasileiras e distintas formas de aplicação que estejam envolvidos. A degradação e persistência são variáveis em função do tipo de moléculas químicas do agrotóxico envolvidas no processo e as características dos principais atributos ambientais (solo, matéria orgânica, água e microrganismos) associados à degradação e mobilidade. Agrotóxicos mais persistentes, mais estáveis e com maior tempo de meia vida no ambiente apresentam maior risco de contaminação da água, ar, solo, animais e humanos.

Impactos na água de consumo

Atualmente a lei que estabelece o regramento para o controle e a vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade é a Portaria de Consolidação nº 5/2017 do Ministério da Saúde. Essa portaria estabelece um total de 27 princípios ativos prioritários para o monitoramento na água que consumimos. Desse total, a Embasa atualmente monitora 25 com equipamentos próprios e contrata os serviços de laboratórios externos para monitoramento desses dois restantes (MANCOZEB e PERMETRINA); todavia, esse monitoramento se limita à água tratada que é distribuída para a população, ficando de fora desse controle a água bruta (não tratada) dos mananciais superficiais e subterrâneos. A responsabilidade legal em fazer o monitoramento da qualidade das águas superficiais e subterrâneas, segundo os itens V e XXV do Artigo nº 52 da Política Estadual de Recursos Hídricos (Lei nº 11.612/2009) é do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), entretanto, com vistas a garantir maior segurança à população baiana, a Embasa está em vias de adquirir um segundo equipamento (Cromatógrafo Gasoso) para garantir esse monitoramento da água bruta dos municípios do interior da Bahia.

Mas há um longo caminho a percorrer, pois é fácil notar o imenso descompasso entre o número total de princípios ativos de agrotóxicos registrados em 2010 na ANVISA e usados atualmente na agropecuária brasileira (508) e o número de princípios ativos de agrotóxicos que a lei efetivamente exige o monitoramento na água (27). Também nos causa imensa preocupação, a dificuldade dos profissionais da área de saúde em estabelecer o nexo causal entre o aumento da incidência de doenças cancerígenas em humanos com o consumo indireto desses princípios ativos, seja na água ou nos alimentos.

Certamente é impraticável o monitoramento de todos os 508 princípios ativos na água, todavia o cumprimento do parágrafo 5º do Artigo nº 41 da Portaria de Consolidação nº 5/2017 do Ministério da Saúde já seria um bom começo para pelo menos buscarmos monitorar princípios ativos de agrotóxicos priorizando aqueles mais usados naquela região.

O assunto foi tema do quadro “Meio Ambiente e Saúde”, veiculado às quartas-feiras pelo programa Saúde no Ar. na Am 840  e Rádio Web Saúde no ar (baixe o aplicativo) e sintonize!

Evanildo Pereira de Lima, Analisa Ambiental da Embasa, Engenheiro Agrônomo com Especialização em Solos e Meio AmbienteOuça o comentário de Evanildo Pereira de Lima,

Engenheiro Agrônomo,Especialista solos e Meio Ambiente

Analista Ambiental da EMBASA.

Sobre o quadro “Meio ambiente e saúde”: Desde o ano de 2017 a Escola de Nutrição/UFBA,desenvolve o projeto de Extensão,“Nutrição, meio ambiente e saúde no ar: comunicação em saúde e cidadania”, sob a coordenação da Profa Ma.Neuza Maria Miranda dos Santos e colaboração do Grupo Germen, e da  aluna bolsista do projeto Permanecer, Thuane Policarpo.Para participar do Projeto que tem como objetivo apresentar e discutir temas de saúde, em seu conceito ampliado, além de difundir informações científicas sobre nutrição, alimentação saudável e qualidade de vida, basta enviar perguntas ou sugestões de temas para o email: produção@portalsaudenoar.com.br ou uma mensagem de texto ou áudio para o WhatsApp: 71-9968-13998.

Redação: Saúde no Ar

Texto: Evanildo Pereira de Lima

Foto: Internet /divulgação

 

 

O jornalismo independente e imparcial com informações contextualizadas tem um lugar importante na construção de uma sociedade , saudável, próspera e sustentável. Ajude-nos na missão de difundir informações baseadas em evidências. Apoie e compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.