Cerca de 35 mil brasileiros convivem com a Esclerose Múltipla, de acordo com dados do Ministério da Saúde. É essencial o acompanhamento médico para garantir a qualidade de vida da pessoa com a doença, por isso foi criado o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla, celebrado em 30 de agosto. A data inspirou a criação do Agosto Laranja, marcado pela disseminação de informação à população sobre a doença.
O primeiro passo é entender como a esclerose múltipla age no organismo. Para deixar bem claro, o neurologista e professor da UNIFACS, Felipe Oliveira, fez um paralelo entre a doença e o funcionamento de uma rede elétrica. Ele explica que, enquanto na eletricidade, os fios são essenciais para que a energia seja transmitida, no cérebro os neurônios fazem esse papel de transmissão. Caso haja algum problema na fiação, como eles estarem desencapados, podem ocorrer problemas como curtos circuitos até o não funcionamento da rede elétrica.
“De forma semelhante, no sistema nervoso nós temos os neurônios, que seriam os fios, e uma capa, que chamamos de bainha de mielina. Em doenças desmielinizantes como a esclerose múltipla, acontece um processo de desmielinização, ou seja, um processo de desencapamento desses nossos fios e, com isso, a rede elétrica, que nesse caso é o sistema nervoso, não funciona de forma adequada”, explica o especialista.
Mas porque isso acontece? A esclerose múltipla é causada por um processo autoimune, em que o sistema imunológico se volta contra si, atacando as bainhas de mielina responsáveis pela proteção dos neurônios. A medicina ainda não tem conhecimento pleno do motivo que leva ao surgimento de doenças autoimune, mas fatores genéticos, que predispõem determinados indivíduos a desenvolverem a doença, e fatores ambientais, estão envolvidos.
Tratando a doença
O tratamento vai depender muito das características da doença, que não se manifesta de forma igual para todo mundo. Os sintomas vão surgir de acordo com a localização do ataque auto imunológico nas regiões do cérebro. “Se o ataque aconteceu em uma região responsável pela motricidade, a consequência vai ser uma fraqueza e dificuldade de movimentar aquela região do corpo. Da mesma forma, se atingiu regiões responsáveis pela percepção da sensibilidade, a pessoa terá alterações sensitivas, como dormência e formigamento”, explica o neurologista. Ele aproveita para destacar que fraqueza ou formigamento isolados não são sinais de esclerose múltipla, e só um neurologista é capaz de avaliar os sintomas e definir o diagnóstico.
A esclerose múltipla se manifesta em períodos de surto – quando a pessoa apresenta um quadro agudo dos sintomas, que pode durar horas ou dias – e remissão, com a regressão dos sintomas. “O tratamento vai ser voltado para impedir ou reduzir o surgimento dos surtos através de medicamentos que controlam o sistema imunológico. Do outro lado nós temos o processo de reabilitação, voltado a recuperar o máximo possível as sequelas que surgirem”, declara o neurologista.
Ele salienta que o grande problema da esclerose múltipla é que muitas vezes a regressão dos sintomas não é completa e, ao longo desses surtos e remissões, vão se acumulando sequelas, o que vai diminuindo a qualidade de vida da pessoa com o passar dos anos. Por isso é essencial a presença de uma equipe multiprofissional – fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, além de acompanhamentos psicológico e psiquiátrico, para que haja um controle eficaz da doença e reinserção do indivíduo nas atividades do dia a dia.
Fonte: UNIFACS