Estudos revelam que a reabilitação melhora o prognóstico a longo prazo, reduz complicações e aumenta a autonomia dos pacientes.
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte e incapacidade funcional no Brasil. De acordo com o Portal da Transparência do Centro de Registro Civil, em 2023, até novembro, mais de 98 mil óbitos por AVC foram registrados no país. Classificado como acidente vascular isquêmico (quando os vasos cerebrais estão entupidos) ou acidente vascular hemorrágico (causado pelo rompimento dos vasos), o AVC pode resultar em sequelas significativas, prejudicando tanto o desempenho físico quanto as funções cognitivas.
Apesar de sua alta prevalência e mortalidade, o AVC ainda é uma doença negligenciada no Brasil. Estudos de longo prazo sobre seus fatores de risco e o impacto da reabilitação nas taxas de sobrevivência são raros. No entanto, uma pesquisa recente conduzida pela Universidade de São Paulo (USP) lança luz sobre a importância crucial da reabilitação para os sobreviventes de AVC.
O Estudo de Mortalidade e Morbidade do AVC (EMMA), iniciado em 2006, acompanhou pacientes que sofreram AVC e buscaram atendimento no Hospital Universitário (HU) da USP. O estudo, publicado na National Library of Medicine, analisou 632 sobreviventes de AVC isquêmico, observando-os por um período de até 12 anos. Durante o acompanhamento, foram coletados dados sobre a recuperação funcional dos pacientes, uso de medicamentos e a realização de reabilitação física e fonoaudiológica.
Os resultados do estudo mostram que o grau de incapacidade funcional pós-AVC é o principal fator que influencia as taxas de mortalidade. Pacientes que se engajaram em programas de reabilitação apresentaram uma melhora significativa no prognóstico a longo prazo, com menor risco de complicações médicas e morte.
Além disso, o estudo revelou que o uso contínuo de medicamentos para controle dos fatores de risco cerebrovasculares reduziu o risco de mortalidade em 50%. No entanto, pacientes com maior grau de incapacidade funcional e idosos enfrentam um risco maior de morte, especialmente entre seis meses e dois anos e meio após o AVC.
Diante dessas evidências, fica claro que a reabilitação não é apenas uma recomendação, mas uma necessidade vital para aqueles que sobreviveram a um AVC. Investir em programas de reabilitação, que incluam fisioterapia e fonoaudiologia, pode não apenas prolongar a vida dos pacientes, mas também melhorar significativamente sua qualidade de vida, permitindo-lhes retomar atividades cotidianas com maior independência.
“A reabilitação fonoaudiológica é fundamental para ajudar os pacientes a recuperarem a capacidade de comunicação e deglutição, funções que muitas vezes são gravemente afetadas após um AVC. Cada pequena conquista durante o processo de reabilitação faz uma diferença enorme na vida do paciente, permitindo que ele reconquiste sua autonomia e melhore sua qualidade de vida,” afirma Cristina Zerbinati, fonoaudióloga e especialista em reabilitação hospitalar.
A reabilitação pós-AVC é um dos pilares para garantir que os sobreviventes possam superar as sequelas e viver de forma plena. O investimento em programas de reabilitação de qualidade é, portanto, essencial para reduzir as taxas de mortalidade e melhorar a saúde e bem-estar da população brasileira.