A pandemia da covid-19 evidenciou as realidades sociais e econômicas, mostrando ao mundo que o acesso à saúde é deficitário não só no Brasil, mas em todo o mundo. Países como Itália e Espanha foram os primeiros a sofrer com o aumento do número de mortes causadas pelo novo coronavírus e até mesmo na maior potência do mundo, Estados Unidos, os hospitais tiveram a totalidade dos seus leitos ambulatoriais e de internação ocupados.
O Brasil possui o maior sistema de saúde pública do mundo, através do SUS (Sistema Único de Saúde), com a garantia de acesso à saúde descrita em lei, o que possibilitou uma distribuição facilitada de vacinas e acesso a atendimento médico e de demais profissionais da área. Entretanto, a velocidade de expansão de novos casos superou a capacidade de atendimento, levando à saturação dos sistemas de saúde, tanto público como privado.
Para levar acesso à toda população, as ferramentas digitais de saúde foram e continuam sendo imprescindíveis para o atendimento de qualidade, com seu uso ainda mais necessário durante a pandemia. A principal ferramenta utilizada como forma de melhoria do acesso durante a crise sanitária foi a telemedicina. Empresas que já possuíam a tecnologia saíram na frente na corrida de ampliar o acesso.
Com a telemedicina, pacientes com sintomas leves de covid-19, ou aqueles que necessitavam apenas de uma orientação, foram atendidos de forma remota, evitando a sobrecarga dos sistemas de saúde e evitando a contaminação de mais pessoas. O atendimento médico remoto ainda passou a ter um papel de prevenção, já que um paciente com sintomas leves de doenças virais, como cefaleia, tosse, coriza e mialgia, deixou de ir ao hospital para ser atendido e orientado à distância. Dessa forma, enfermos que estavam com outras doenças, como infecção pelo vírus influenza, rotavírus ou bactérias deixaram de ter contato com o SARS-CoV-2, causador do novo coronavírus, logo, evitando uma nova contaminação oriunda do ambiente hospitalar.
A telemedicina passou a ter papel epidemiológico também, quando integrado a uma plataforma de gestão e prontuário eletrônico que registram os dados dos pacientes e seus atendimentos. Isso acontece porque doente de todo o Brasil, inclusive de áreas remotas do interior dos estados foram atendidos por médicos também espalhados por todo o país. Dessa forma, além do registro e da análise dos sintomas apresentados, as plataformas passaram a registrar o endereço do paciente e realizar a notificação compulsória, por meio do e-SUS. Com isso, ampliou-se o desenho do mapa do coronavírus no território nacional e assegurou-se uma melhor acurácia na notificação compulsória, já que muitos dos pacientes orientados em áreas remotas nunca seriam notificados, porque dificilmente seriam atendidos em casos leves a moderados da doença.
Essa atuação da telemedicina e dos prontuários eletrônicos se estendeu não apenas para a covid-19, mas como outras doenças, como a dengue. Entre fevereiro e abril deste ano, pacientes com sintomas sugestivos de covid-19, mas com teste negativo para a doença, foram testados para dengue pelos médicos de teleconsulta. O resultado foi que a grande maioria apresentava sorologia positiva para a doença, gerando um alerta epidemiológico às autoridades de saúde, meses antes de serem notificados oficialmente os surtos de dengue espalhados pelo Brasil.
Vimos iniciativas em todo país de atendimento em saúde a populações ribeirinhas, indígenas, quilombolas e demais pessoas que ainda possuem o atendimento dificultado, muitas vezes de forma gratuita.
A telemedicina, aliada ao prontuário eletrônico, que utiliza a tecnologia de assinatura digital e as plataformas de teleconferências, contribuíram para melhores resultados no combate à pandemia no Brasil e no mundo, além de criar uma nova cultura de transformação digital no país.
Por: Rafael Kenji Hamada; CEO da Feluma Ventures