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 A fome e a aprendizagem

 

 A fome e a aprendizagem
Ítalo Francisco Curcio é Doutor e Pós-doutor em Educação, Professor convidado da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).

 

Fome e aprendizagem são dois conceitos de extrema relevância e que acompanham a humanidade há milênios. Existem registros marcantes, em diferentes épocas da história, que ratificam essa afirmação, inclusive com a associação da fome à aprendizagem.
Alguns desses registros são muito conhecidos por fazerem parte de certas culturas milenares, influentes até os dias atuais, como a egípcia antiga, na qual a fome era recorrente, mesmo entre as pessoas mais ricas e influentes politicamente. Existem estudos consistentes que mostram as consequências da falta de alimentação satisfatória naquela população, responsáveis por um tempo de vida muito curto, estimado entre 35 e 40 anos. Também existem registros de fome na Roma Antiga, como a ocorrida em meados do século V a.C., e na Europa Medieval, especialmente a que aconteceu no início do século XIV. Enfim, fome é um problema que assola e preocupa o ser humano há muito tempo.
Não obstante tais registros, e de tantos outros que poderiam ser mencionados, tem-se, hoje, com base científica, grande conhecimento acerca da importância de uma alimentação saudável no desenvolvimento físico do ser humano e, também, no intelectual. Crianças e adolescentes que possuem uma alimentação sistemática, balanceada e rica em nutrientes considerados básicos, apresentam desempenho escolar com elevado rendimento, bem superior ao daquelas que não são assistidas com a mesma dieta. Destaca-se, ainda, que esse pormenor não se limita a essa faixa etária, ele vale também aos estudantes de maior idade.
Nesse contexto, ao se falar em educação de qualidade, são muitas as variáveis que devem ser consideradas. É inegável a importância e a necessidade da boa preparação dos professores acompanhada de uma formação continuada ou de um ambiente físico equipado com alta tecnologia para uso em sala de aula, laboratórios e bibliotecas. Além disso, é preciso ter espaços com acessibilidade a pessoas com deficiência e funcionários de apoio devidamente treinados para atender às demandas existentes, todavia, não é só isso. As condições de saúde do aluno devem preceder todos esses requintes. De que adianta todo este know-how, acompanhado de modernas instalações, se o protagonista do processo ensino-aprendizagem, no caso, o aluno, não tem condições mínimas de saúde para usufruí-lo?
Por isso, retoma-se ao conceito da fome associado ao da aprendizagem, um binômio que deve ser considerado por todos os responsáveis pela Educação, da família até o Estado.
Pode parecer estranho para algumas pessoas, mas a fome vai além da falta de comida, ela envolve também sua qualidade. Nem sempre estar “de barriga cheia” significa estar bem alimentado. O ser humano bem alimentado é o que possui uma dieta equilibrada, suficientemente balanceada com os elementos nutricionais considerados básicos pelos especialistas da saúde e isso não se restringe às camadas sociais menos favorecidas economicamente. Tal situação é muitas vezes verificada também em famílias das chamadas classe média e classe alta, referentes ao quesito financeiro. Especialmente no caso da criança e do pré-adolescente, verifica-se que, devido à rotina da família, essas nem sempre são devidamente cuidadas no tocante à alimentação. Não são raros os casos de dificuldades de aprendizagem manifestadas por alunos dessas classes sociais mais abastadas ou relatos de desnutrição devido a uma alimentação desequilibrada, decorrente da inexistência de uma dieta sistemática e criteriosamente construída.
Por isso, entende-se que a presente reflexão deve ser feita por todos os envolvidos com a Educação das crianças, jovens e adultos, ou seja, familiares, professores, gestores educacionais e governos municipais, estaduais e federal.
Nas camadas mais pobres, são importantes os programas sociais como “Bolsa Família”, “Vale Gás”, “Vale Transporte”, “Merenda Escolar”, entre tantos outros existentes. Porém, juntamente com esses programas, é preciso que exista uma campanha nacional de esclarecimento para o bom uso desses recursos. Campanha essa que deve ser estendida inclusive às camadas sociais mais aquinhoadas, pois a alimentação também é um problema de Educação. Pode-se até dizer “pré-educação”, pois sem a boa alimentação, a aprendizagem fica comprometida.
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie

 

A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) está na 71a posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa Times Higher Education 2021, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Comemorando 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.

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