A crise hídrica e o risco de apagão elétrico no Brasil

A crise hídrica atual no Brasil e no mundo confirma os prognósticos do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU de que com as mudanças climáticas, eventos extremos, como o que estamos vivenciando em nosso planeta, vão se tornar mais frequentes e com intensidades maiores. Esta situação é agravada no Brasil com a política ambiental do governo Bolsonaro que, ao invés de proteger o meio ambiente, favorece o desmatamento e queimadas que afetam o clima no Brasil. Entre as consequências da crise hídrica no Brasil estão a redução da oferta de alimentos, a diminuição do abastecimento de água para a população e o comprometimento no fornecimento de energia elétrica no Brasil. O Brasil enfrenta um novo período de escassez hídrica que começou em julho de 2020 quando a afluência das chuvas ficou 32% abaixo da média histórica. Como resultado, o volume da água armazenada nos reservatórios das usinas hidrelétricas entra no período seco de 2021, que se estende até novembro, com níveis de água preocupantes em seus reservatórios com 10% de suas capacidades. Diante da maior crise hídrica do País em 91 anos como a que se registra atualmente, surgiu o temor de que o País possa ser obrigado, novamente, a conviver, como em 2001, com o racionamento de energia para evitar o apagão elétrico, hipótese, até agora, negada pelo governo. Atualmente, os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por 70% da geração de energia do país, operam com 22,5% da capacidade de armazenamento.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) alertou para o risco de apagões a partir de outubro, caso a produção de energia elétrica adicional não aumente, pelo menos, em 7,5%. O ONS recomendou ao governo federal que aumente o uso das termelétricas e considere importar energia de países vizinhos, já que, com a seca que afeta o país, a oferta das hidrelétricas será insuficiente. A solução encontrada pelo governo é péssima porque aciona as usinas termelétricas que resulta em aumento exorbitante das tarifas de energia elétrica no Brasil. O último reajuste nas bandeiras tarifárias realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em junho, foi de R$ 6,24 a R$ 9,49 para cada 100 kwh (quilowatts-hora) consumidos. Cálculos internos do governo apontam para a necessidade de a bandeira vermelha nível 2, hoje em R$ 9,49 para cada 100 quilowatts-hora (kWh), ser elevada para algo entre R$ 15 e R$ 20. Nada assegura, entretanto, que essas medidas venham evitar a ocorrência de “apagões” demonstrando, de forma cabal e inequívoca, a incompetência dos responsáveis pelo setor elétrico brasileiro seja em termos de falta de previsão da crise hídrica, falhas no monitoramento dos reservatórios das usinas hidrelétricas e, sobretudo, incompetência no planejamento do setor elétrico brasileiro.

Alguém poderia perguntar: o risco de apagão elétrico poderia ser evitado? A resposta é sim com planejamento que parece que não é praticado pelo atual governo em todos os setores, inclusive pelo setor elétrico brasileiro. Para planejar o sistema elétrico do Brasil, seria necessário traçar, inicialmente, cenários sobre a evolução da demanda de eletricidade nos próximos anos (10 anos ou mais) para determinar como ela poderá ser suprida com o uso das fontes de energia existentes em operação e as novas a serem implantadas. Como no Brasil, a maior parte das fontes de energia existentes é hidrelétrica, é importante estimar estatisticamente como ocorrerão as vazões nos rios que alimentam seus reservatórios levando em conta o histórico de longo prazo de suas vazões e os períodos de estiagem que possam comprometê-las. Esta análise é fundamental para determinar, com antecipação, o que ocorrerá com o nível da água nos reservatórios das hidrelétricas e, consequentemente, estimar a energia e a potência a ser gerada por cada usina hidrelétrica.

A “crise do apagão” pode se repetir em um futuro breve no Brasil. O apagão poderá ocorrer, se não houver maior expansão das energias solar e eólica no Brasil que deveriam operar produzindo energia elétrica na quantidade necessária para compensar a queda na produção de energia hidrelétrica devido à crise hídrica. Esta seria a solução que permitiria evitar a redução no nível da água dos reservatórios das hidrelétricas e impedir o uso de termelétricas com a consequente poluição ambiental e elevação da tarifa de energia elétrica por elas provocada. É preciso que se dimensione e se implante a energia a ser gerada e potência necessárias em usinas solar e eólica para viabilizar esta solução. Paralelamente a esta solução, deveriam ser adotadas políticas de incentivo à economia de energia com a produção de equipamentos elétricos mais eficientes e de redução do consumo de eletricidade pela população e pelo setor produtivo.

Pelo exposto neste artigo de 7 páginas, fica bastante evidenciado que o risco de apagão resultou da falta de uma estratégia de planejamento do setor elétrico que levasse em conta a ameaça de estiagem nas áreas dos reservatórios das usinas hidrelétricas, considerasse a expansão das fontes de energia eólica, solar e biomassa no nível necessário para compensar as deficiências da geração hidrelétrica tendo o propósito de manter os níveis de água dos reservatórios das hidrelétricas compatíveis com as necessidades da produção de eletricidade e, também, a adoção de políticas de incentivo à economia de energia com a produção de equipamentos elétricos mais eficientes e de redução do consumo de eletricidade pela população e pelo setor produtivo. Tem faltado, portanto, aos gestores do sistema elétrico nacional a adoção de uma política energética racional como a que acaba de ser proposta.

O vídeo abordando o tema do artigo pode ser assistido acessando o website

Por: Fernando Alcoforado

 

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