O Hospital Santo Antônio, na Cidade Baixa, pertence às Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) e se tornou referência na assistência à população carente, registrando uma média de 16 mil internações e 10 mil cirurgias anuais. Os bons indicadores chamaram à atenção do Estado que concedeu para a instituição, as administrações de quatro estabelecimentos, através do modelo de Organização Social (OS): os hospitais do Oeste, em Barreiras, Eurides Sant’Anna, em Santa Rita de Cássia, e o Mário Dourado Sobrinho, em Irecê, além da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Roma, em Salvador.
Destes, o Hospital do Oeste (HO) é o que está sob a responsabilidade da OSID há mais tempo. Desde junho de 2006, a instituição assumiu a administração da unidade construída localizada a cerca de 870 km de Salvador. Atualmente, ela funciona como 215 leitos, possui 760 funcionários e realiza uma média de 40 mil atendimentos de emergência e 300 cirurgias mensalmente, com um custo de R$ 4,9 milhões também por mês.
Problemas antigos
O contrato firmado entre o governo e a OSID prevê 185 leitos, mas outros 30 tiveram que ser criados para atender à demanda. Ainda assim, a instituição enfrenta um problema bem comum aos hospitais públicos: a superlotação. “Nós temos convivido lá com uma taxa de ocupação de em torno de 130%. Aí é aquela coisa, muitas vezes o paciente fica no corredor, mas ele está ali com toda a medicação e com acompanhamento médico. Mas eu não tenho um espaço definido naquela estrutura inicial do hospital (para acomodá-lo)”, relata Sérgio Lopes, gestor operacional das unidades externas da OSID.
Lopes alega que uma das maneiras de minimizar a falta de vagas, é oferecer aos pacientes um “tratamento humanizado”. “Sempre que a gente assume estas unidades, as Obras Sociais Irmã Dulce imprime logo sua marca. Então quando nós chegamos nestes locais, percebemos um aumento significativo da procura pelos serviços. Isso é um fenômeno que percebemos sempre”, destaca.
Além da falta de leitos, o atraso no repasse de verbas também é um problema que exige ‘jogo de cintura’ para ser solucionado. Quando isso acontece há três caminhos: “Um é empréstimo bancário, a custo do prestador, da instituição, no caso. O outro é utilizar os recursos economizados pela instituição e que ficam disponíveis em uma conta do Estado. E na terceira opção, que é mais comum no nosso caso, é que a gente utiliza o dinheiro de nossas doações. Estamos lidando com vidas, se a gente assim não fizer, não tem como tocar as coisas e o hospital não pode parar”.
Superando os desafios
Apesar das dificuldades, uma série de metas contratuais faz com que o HO mantenha os serviços de saúde funcionando com qualidade. Lopes defende que a terceirização é vantajosa tanto para o Estado quanto para a população: “O setor filantrópico tem a possibilidade de atuar em várias questões com a agilidade do setor privado. Podemos avaliar nossa equipe e se tiver um profissional que não está dando resultado, trocamos com uma facilidade que o governo não tem, por ter que cumprir vários procedimentos administrativos, por exemplo. Hoje, se você comparar as unidades do Estado com as que são terceirizadas, em qualquer perspectiva, irá perceber que as terceirizadas têm um desempenho maior e são mais baratas”, defende.
Porém, quando o assunto é como resolver os problemas enfrentados pelos hospitais que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), Lopes é enfático e mostra que a solução passa bem longe das unidades de média e alta complexidade: “Temos que investir na atenção básica”, afirma.
Irmã Dulce
Conhecida como Anjo Bom da Bahia, Irmã Dulce é a responsável pela obra filantrópica que leva seu nome, iniciada por ela no século passado com muito sacrifício. A religiosa foi beatificada em 2011. O processo é a última etapa antes da canonização. Apesar de ainda não ter sido reconhecida como santa pelo Vaticano, muitos soteropolitanos já atribuem à ela vários milagres. Ações que não precisam muito de uma explicação divina: “Eu chego aqui e sou bem recebida. Do médico ao enfermeiro, todo mundo me trata como gente. Às vezes, demoro para conseguir marcar um exame, receber um atendimento. Mas aqui sempre consigo”, relatou a dona de casa Josefa Oliveira, 55 anos, com um sorriso no rosto, após receber alta do Hospital Santo Antônio.
Ana Paula Lima
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