Atualmente, mais de 2.300 pessoas estão na lista de espera da Central de Transplantes do Estado. Quem vê o comerciante Antônio Carlos Martins, 58 anos, trabalhando de segunda a segunda em seu estabelecimento, no final de linha do Saboeiro, em Salvador, não imagina a história dele. Foram quatro anos e meio sem poder fazer esforço, passando por sessões de hemodiálise. Para estar completamente ativo hoje, além do rim, ele também recebeu outro fígado. Antônio Carlos foi o primeiro paciente a receber um transplante duplo no hospital São Rafael, em agosto de 2013, quando o estado voltou a realizar o procedimento. “O transplante modificou minha vida, hoje me sinto como era antes de ficar doente. Faço tudo, trabalho, tomo conta do meu estabelecimento, tranquilo. Levo uma vida normal”, afirma o comerciante.
De Janeiro a agosto de 2016, a Bahia registrou crescimento de 40% no número de transplantes realizados, e de 20% no número de doadores, quando comparado ao mesmo período do ano passado. Para salvar ainda mais vidas, há um ano a Bahia lançou a Política Estadual de Incentivo ao Transplante. Segundo a coordenadora do centro, América Carolina Sodré, a equipe do Hospital Ana Nery foi credenciada e já realizou o primeiro cardíaco. “Em relação a 2015, foi registrado o crescimento no número de transplante de fígado, medula e renal no estado e credenciamos três novas equipes para realizar transplante de rim em Feira de Santana”.
Autorização
A coordenadora informou que uma das dificuldades para aumentar o número de transplantes é identificar os potenciais doadores. Segundo ela, a negativa das famílias reduziu de 70% para 61%, sendo que a média brasileira de recusa familiar fica em torno de 44%. “Também registramos um crescimento em torno de 10% no número de notificações de morte encefálica desde o lançamento da política, em especial no interior do estado. De cada 100 notificações de morte encefálica que recebemos, cerca de 80 são confirmadas e destes 68 são doadores em potencial, sendo que apenas 27 se efetivam doadores”.
A psicóloga Joice Ferreira, 35 anos, perdeu uma tia e participou da decisão para que a doação fosse realizada. Ela sabe que uma doação de múltiplos órgãos pode salvar até sete vidas. “A decisão foi difícil, parte da família não era a favor da doação. Eu pensava imediatamente nas pessoas que estão na fila esperando esse órgão, com uma qualidade de vida muito ruim, quem está preso a uma máquina de hemodiálise. Nossa família passava por uma morte prematura em um acidente de moto. A gente poderia ter encerrado em uma tragédia, mas nós conseguimos reverter isso para a possibilidade de vida para outras pessoas”.
Equipes
A Bahia conta com duas instituições credenciadas para transplante de fígado, seis para transplante renal – com a sétima em fase de credenciamento junto ao Sistema Nacional de Transplantes –, uma para coração outra para pulmão, duas para medula óssea e 16 para transplante de córneas. Ainda segundo América Carolina, as organizações de procura de órgãos são subordinadas à Central Estadual de Transplantes. É um modelo de busca de doadores regionalizado, são equipes formadas por médicos, enfermeiros e assistente social, que têm hospitais referência com a função de apoiar estas instituições para que o processo de doação ocorra de forma segura e célere. Há também as equipes intra-hospitalares, que não executam busca de doadores fora da instituição.
Redakçao Saúde no Ar
João Neto